Regata em linho puro bordada em ponto ajul.

Nos conhecemos no coração do Cariri paraibano — e talvez tenha sido ali, entre pedras quentes e rendas finas, que o destino nos soprou seus primeiros pontos. Por isso, quando decidimos nos casar, não havia dúvida: queríamos vestir o amor pelas mãos das rendeiras daquela terra que primeiro nos viu enamorados. Desenhei os riscos como quem traça um mapa de afetos. @rosangelamoura35 modelou o desejo em tecido. E, ao longo de quatro meses, as meninas de Ipojuca e Monteiro, sob a batuta da mestra Marlene @marlepoldino , bordaram o tempo e a espera em túnicas de renda renascença — linha por linha, ponto por ponto. A renda, que nasceu na Itália, chegou ao Brasil com uma história de dor e silêncio. Veio com uma jovem veneziana, enviada ao convento de Olinda no fim do século XIX, exilada do seu amor por imposição do pai. Ali, enclausurada, viveu até os 92 anos. Viveu e teceu. O ponto base da renascença chama-se “dois amarrados” — talvez por carregar em seu nome o peso dos destinos entrelaçados. Mas para redimir a dor desse amor aprisionado, optei por libertar pássaros. Sim, bordamos aves em pleno voo sobre um coração desfiado. Porque aqui, o amor não é enclausurado — é alado. . Info @marlepoldino @rendasdocariri ❤️🤍.

Rendados pelas mãos das rendeiras da cidade de Monteiro, PB, coordenadas pela mestra @marlepoldino. No próximo post detalhes do processo da feitura desse manto sagrado e sacralizado por elas! . . Photo @anacolla

Logo na entrada da festa, um painel nos convidava a atravessar o tempo — e nos deixava posar como se fôssemos pintura antiga. Inspirado nas fotografias de Chichico Alckmin e no casarão do Solar dos Urubus, ilustrado com precisão e poesia pelo artista vilaboense @franciscoveigailustrador ele ganhou vida pelas mãos de @mari_pessini e sua Casarima, no Rio Grande do Sul. Ali, na @casarima o tecido é mais que suporte: é território de encantamento. É onde a imagem vira pele e memória, onde a impressão é feita com a delicadeza de quem respeita o silêncio das tintas e o pulso das histórias. O resultado foi um painel que não apenas decorava — mas narrava. A pedido dos noivos, a cena evocava as pinturas do século XIX, como se os convidados estivessem entrando num retrato vivo, bordado entre passado e presente, entre o amor e a arte.

“Dize-me com quem andas e eu te direi quem és” — e se for o que se calça? Para o nosso casamento, escolhemos caminhar com as bênçãos que vêm do sertão. Encomendamos nossas sandálias ao mestre Espedito Seleiro @espeditoseleirooficial , mestre artesão cearense que borda couro como quem reza. Nos pés, o traço rendado de sua história — couro talhado em afeto, tradição e beleza. Mais que calçados, são bússolas: nos conduzem com raízes, poesia e benção para os passos que escolhemos dar juntos. . Photo @caraquefotoeessa 🖤

Quando um mineiro e um goiano decidem casar sob a bênção do amor e do Nordeste, o altar vira terreiro de cultura e festa. Das rendas às cantorias, das roupas dos noivos ao bolo de noiva, tudo ali era sotaque, memória e celebração. Os nossos “noivinhos”, esculpidos com afeto pelo artista cearense do Crato, @chrlslssa pareciam saídos de um cordel bordado com argila e poesia. Já o bolo — ah, o bolo! — era mais que sobremesa: era ritual. Um legítimo bolo de noiva pernambucano, feito pelas mãos encantadas de @rosacabare que veio, dançou, celebrou conosco e nos ofertou esse pedaço de tradição doce, úmida e eterna. E sim, ela aceita encomendas por todo o Brasil — porque o afeto não tem CEP. Charles e Rosa, amo-vos como se ama o que nos veste e alimenta: com reverência e festa!

@rosa_santana_ , nossa “dama de honra”, amiga moradora da Cidade de Goiás, bastião da cultura local e profunda conhecedora da literatura brasileira nos brindou com uma montagem de versos de três grandes poetas brasileiros: . . . Amar é ter no outro o nosso pensamento Amar é voar sem asa E porque amar é acolhimento Amar é mudar a alma de casa. * Não te procurei Não me procurastes Íamos, sozinhos, por estradas diferentes Indiferentes, cruzamos Corri ao teu encontro Sorri Falamos E desde então Andamos juntos pela vida. ** E desde então Sou E desde então És Somos! E por amor Serei Serás Seremos *** . . Cora Coralina, Mario Quintana , Pablo Neruda. . Photos @caraquefotoeessa

Um presente precioso as palavras da poeta @biancaramoneda ilustrando o nosso encontro na abertura da nossa cerimônia de casamento. Coração trans-BORDOU de emoção e amor!

Hoje amanhecemos com novos nomes: . Ronaldo Moreira Fraga Januário & Rodrigo Oliveira Januário Fraga.. . . Photo @caraquefotoeessa

Amor romântico, amor de irmão, amor de pele e poesia. Amor de calçada, de lençol, de estrada, de dia comum e de festa. Amor-menino, amor-homem, amor-de-putaria -sagrada, amor que é semente e fruto ao mesmo tempo. Ah… o que é o amor e onde vai dar? Hoje, diante das leis dos homens e na presença dos nossos afetos, eu me caso com Rodrigo Januário — o meu amor. O que muda de hoje pra amanhã? Talvez só a assinatura com sobrenomes entrelaçados, porque o resto… o resto já era destino antes mesmo de ser escolha. Nosso casamento não começa hoje. Ele começou lá atrás, no silêncio mineral dos lajedos da Paraíba, onde as pedras assistiram sem pressa aos nossos olhos se cruzando, aos nossos corpos se reconhecendo, aos nossos beijos nos ensinando o que nem sabíamos que sabíamos. Eu amo o cara com quem me caso hoje. E amo também o menino que fui até chegar até ele. Amo esse caminho bordado a dois. E amo saber que, de agora em diante, a vida tem um novo sobrenome: o nosso. . . .

Obrigado ao agitador cultural e agitador do @midianinja @vitorcadillac pela linda matéria sobre o Solar dos urubus em Goiás Velho. Linda querido! https://midianinja.org/solar-dos-urubus-une-amor-arte-e-o-acaso-em-goias-velho/

O melhor da festa não é o dia em que ela acontece. É o tempo que ela costura antes de existir. É o sonhar de olhos abertos, o desejar com o peito em festa, o planejar como quem borda um enredo de amor em ponto cheio. É a espera que dança no coração, a alegria de organizar cada detalhe como quem colhe flores para um altar de afetos. Mas o melhor de tudo, é saber que os nossos — os de sempre, os de verdade — estarão lá. Jamais esquecerei os dias que antecederam o nosso casamento em Goiás Velho. Porque ali, entre risos, muitos, ansiedade e coração em festa eu e @respeitajanuario construíamos mais uma peça preciosa para o nosso relicário de paixões!

Eu e @respeitajanuario nos conhecemos no Nordeste, e é de lá que têm vindo alguns encantos dessa celebração: as roupas, muitos amigos amados e, sim, o bolo. Bolo de noiva — joia da doçaria pernambucana, carregado de frutas, especiarias e histórias — será preparado pelas mãos da minha amada Rosa @rosacabare , do Hotel Central do Recife @temperoderosa_recife. Minha mestra dos sabores mágicos e do amor. Dom Ratão precisa dizer mais Dona Baratinha ?